15 de março de 2011

Coisas da memória

De acordo com a definição do dicionário, memória é a “função geral de conservação de experiência anterior, que se manifesta por hábitos ou por lembranças; tomada de consciência do passado como tal; lembrança; recordação”. Como simples leiga na matéria não me cabe a mim discordar desta (s) definição (ões), apenas divagar no sentido de filosofar ao sabor das palavras.
Pois bem, realmente, a memória é uma função da qual o ser humano é dotado e que vai desenvolvendo ao longo da vida e, às vezes, para o final da curva da sua longevidade parece perder por completo. Só de pensar que podemos não reconhecer a pessoa que viveu ao nosso lado uma vida inteira é deveras assustador. No dia a dia, já consideramos bastante preocupante não saber onde deixámos as chaves do carro ou o telemóvel. Para que esta função se desenvolva é necessário que as experiências se repitam muitas vezes e se tornam hábitos ou…nem por isso: há situações tão dolorosas e embaraçosas que basta experienciá-las uma vez para ficarem registadas para sempre na nossa memória, na obstante a nossa recusa em revivê-las…aqui a memória leva a melhor sobre a nossa vontade. Por outro lado, a simples lembrança de um lugar, uma música, um perfume… transporta-nos para uma viagem pré-programada a determinada parte da nossa memória. É aqui que entram em cena as boas lembranças, as ditas recordações…não é por acaso que dizem que “recordar é viver”.
Ter consciência do passado como tal é, realmente, o que faz com que fique registado na nossa memória. Mas, muitas vezes, reeducamos a nossa memória, chegando a preenchê-la com coisas que não aconteceram ou que não vivemos ou que não somos. Outras, como temos a consciência que algo de errado ou mau aconteceu, recusamos deixá-lo registado na nossa memória. Aqui a expressão “varrer da memória” adequa-se perfeitamente. Também se dá o caso de, às vezes, ser necessário “refrescar a memória”, principalmente para aqueles que se fazem de esquecidos… ou serão desmemoriados?
Isto no que toca à memória resume-se deste modo: todos somos providos de várias gavetas que formam a nossa memória, algumas estão constantemente e conscientemente abertas, outras semi-abertas e outras estão tão bem fechadas, apenas polvilhadas com as mais íntimas recordações que nos moldam (e quiçá toldam) como pessoas.
Mas o melhor de tudo acontece, quando uma dessas gavetas, fechada há muito tempo no recanto mais escondido da nossa memória, se abre ao simples click no computador, na tão afamada rede social que dá pelo nome de facebook.

Sofia Doutel
Dedicado a alguém recentemente resgatado de uma das gavetas bem fechadinhas da minha memória.

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